Quero um poema que faça despertar
esta ausência de mim, num desafio
qualquer verso genial pra perdoar
o pecado que espio.
Os fantasmas invadem o meu peito
nas noites brancas do meu desatino
partilham comigo o mesmo leito
na dor a que me confino.
Vão tropeçando nas canções antigas
em grito das marés dos meus sentidos
e peço-te, Musa, que me digas:
que passos estão perdidos?
É que giro na luz dos meus enredos
sem atinar em centelhas com rumo
sinto poemas a fugir dos dedos
como ondas de fumo.
Despida do barro onde me escondi
dou comigo a tatear no escuro
e é nessa vida que sei já vivi
que ainda me procuro
Tudo começou
no dia em que sonhei o teu suspiro
na madrugada que surgiu
depois da noite longa
depois do frio...
Tudo começou
com a miragem que encorpou
e se fez loucura desmedida...
Tudo começou no calor de uma brasa
no acontecer do pasmo
num esvoaçar de asa.
Chegaste, Poesia,
e eu aconteci.
. NEVOEIRO