O que está a acontecer
com as nossas tradições
é difícil d'entender
e arranha os corações
Querem acabar com tudo
o que de bom cá existe
e o nosso Povo, é mudo?
Não se assanha, não resiste?
Então Pastéis de Tentugal
estão em vias de extinção?
E deixará Portugal
vencer-se sob pressão?
Quando se propõe alguém
estragar o Queijo da Serra
tirar-lhe a graça que tem
só podem querer... é guerra.
Oh, senhores lá de Bruxelas,
tenham tento, tenham calma,
guardem as vossas cautelas
para países sem "alma"
Pois Portugal tem idade
tem "griffe" e sabedoria
tem garra e tem vaidade
são as suas mais valias
Que o Governo tenha senso
não se abaixe em demasia
quem se abaixa fica tenso
e mal na fotografia
E a ASAE que se contenha
nos seus excessos de zelo
é preciso que mantenha
"na venta" ainda algum "pêlo"
Que se preocupe a Europa
com coisas mais importantes
deixe cá a nossa "tropa"
de belos sabores, impante
Enquanto eu puder escrever
sem ter as "papas na língua"
não me deixarei vencer
nem terei crítica à míngua
Temos todos que lutar
cada um com o seu jeito
para Portugal salvar
pra um país mais perfeito.
Aí temos a Selecção
para alienar o Povo
é preciso distracção
se não há nada de novo.
Mostrar a intimidade
dos "Incríveis" é demais
é falta de seriedade
nos nossos telejornais.
Petróleo sempre a subir
cada dia, cada hora,
são pessoas a carpir
pelo euro, pelo dolar.
O Governo nada faz,
a Oposição discute
não a fome, não a paz,
apenas quem a dispute.
A eleição é pra breve
mas será "igual ao litro"
quem quer que ganhe, ao de leve,
tem no Governo o apito.
Temos portanto 3 tópicos
de grande badalação
eleições no PSD
petróleo e a Selecção.
Vou dizer-te, meu amigo,
o que eu prefiro afinal:
se nada mudar consigo
vou gritar por Portugal.
Louvo-te Vida, plo prazer que sinto
em respirar-te, meu pulmão amado,
simbiose perfeita, sabor d'absinto
em lábios de amantes, da cor do pecado.
Louvo-te Vida, caminhar ligeiro,
pedra filosofal, sublime ambição,
poesia de canto passageiro
moldando o barro da nossa condição.
Aos teus prazeres e a ti te louvo, Vida,
carnaval de emoções, caleidoscópio,
breve a estadia mesmo se cumprida
ardentemente, inalando ópio.
Louvo-te Vida, até à saciedade
nos delírios da pedra e do cetim
em inefável grito à liberdade
luta insana travada por mim.
Asa, brasa, lua de sangue, tropel,
louvo-te Vida, estóica, qual Zenão
baloiçando em papagaios de papel
ou ferindo fragas, garras de falcão.
Louvo-te Vida, luta incendiada
na mutação faíscante do vaivém
total sinestesia desvendada
na pureza grandiosa que detém.
Louvo-te Vida, teu pulsar latente
seios dilatados, seiva uterina
no inebriar de um nascer ardente
em gloriosa sanha feminina.
Vou enfeitar-me com veludos, rendas,
pedras preciosas, vestida de amor,
bela esperando para que me prendas
entoando poemas para teu louvor
"deixa de fumar" dizem-me alguns com olhos doces
estendendo-me os braços e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando dizem: "deixa de fumar"
Eu olho-os com os olhos baços
há nos meus olhos desafios e cansaços
e pego nos (maços)
e nunca deixo de fumar.
A minha felicidade é esta:
criar ansiedade, não ouvir ninguém
que eu nasci já com vontade de fumar
do ventre da minha mãe
Não, não deixo de fumar, só faço
e vou, onde me levam meus próprios passos.
Se ao prazer que tenho nenhum de vós responde
porque me repetis " não fumes mais"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos
poluir os ventos com beatas
sujar os pavimentos
e fumar, até não poder mais.
Se vim ao mundo foi
só para poluir florestas virgens
e calcar beatas na areia inexplorada.
O mais que faço
não vale nada.
Como pois sereis vós
que me dareis conselhos paliativos e coragem
para eu derrubar os obstáculos?
Corre nas minhas veias sangue velho de avós
e vós, amais o que é certo.
Eu amo o cigarro e a fumaça,
amo os abismos, torrentes de tosse, o incerto.
Ide, tendes salas especiais
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes espaços reservados em aviões
e tendes regras e tratados
e filósofos e sábios.
Eu tenho a minha loucura
ergo o cigarro como um facho
a arder na noite escura
e sinto o sangue e a secura nos lábios.
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe
mas eu, que nunca de fumar acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah!, que ninguém me dê piedosos conselhos
ninguém me peça explicações
ninguém me diga: "deixa de fumar"
A minha vida é um fumo que se soltou
é um pulmão que se inflamou
é um átomo de prazer que se animou.
Não sei por onde vou andar
não sei aonde irei parar
sei, que "não vou deixar de fumar
. NEVOEIRO