S. Martinho vem chegando
já com passos apressados
e as castanhas vão assando
em aromas desejados
Vem a brisa empurra o fumo
que se evola pelo ar
e quem passa no seu rumo
vai as castanhas comprar
Tostadinhas e roliças
embrulhadas em jornal
são como marcas castiças
dum Outono em Portugal
A Água Pé segue a passo
a tradição portuguesa
e sem qualquer embaraço
senta-se c' a castanha à mesa
E em casamento ideal
seguem os dois bem juntinhos
embrulhando Portugal
em sabores e em cheirinhos
A florista no mercado
abre a loja das flores
e o que vê são maus olhados
confusões e desamores.
Há muita competição
entre as flores, oh lá se há...
cada qual a mais vaidosa
e com o seu alvará.
Discute a orquidea bela
com a dália e o jasmim
diz ser mais sofisticada
e comprada pra festim.
O cravo sente-se ufano
escolhido pela Revolução
mas logo lhe diz o lírio:
"meu caro, já estás no chão".
Falam rosas orgulhosas
de cores variadas, raras:
"meus queridos, as mais formosas
somos nós e as mais caras.
Servimos amor, paixão
e o Dia dos Namorados.
Quem é mais solicitada,
quem vende mais nos mercados?
Os crisantêmos respondem:
"E nós, temos dia certo
no calendário da vida,
estamos sempre de olho aberto,
andamos muito em enterros
enfeitamos ramos, coroa,
escolhem-nos a nós, sem erro,
e a escolha não é à toa"
As dálias chegam soberbas
de cores diversas, bonitas
"Olhem para nós, quantas pétalas
nos vestem, somos catitas"
Com altivez os antúrios
em grande pompa aparecem
são altos e, em murmúrios,
a confusão estabelecem
"Somos nós as mais bonitas
nossa fama não tem fim
damos classe a qualquer ramo
beleza a qualquer jardim"
Então hortências refilam:
"E nós, queridas amigas,
enfeitamos tantas ilhas
e somos mais que as formigas.
Nossos tons suaves, lindos,
fazem furor pelo mundo
criadas em bruma e vento
vestimos fulgor profundo"
As sardinheiras caladas
foram ouvindo isto tudo
olhavam meio pasmadas
o seu olhar era mudo.
Mas eis que saltam gritando:
"Nós enfeitamos marquises
Portugal de norte a sul
brilha com nossos matizes"
As violetas rasteiras
também solicitam voz
roxas, brancas, rosas, negras
ousam perguntar:"E nós?
Somos lindas, coloridas,
folhas suaves de veludo
não somos caras, nem grandes,
mas compradas para tudo.
Em quartos de hospital,
em escritórios poluídos
fazemos nosso papel
belas e sem alaridos".
Pálidas, cálidas e suaves
dizem depois açucenas:
"Estamos em baptizados
comunhões, sempre serenas"
E a verdade é que em todas
existe algo especial
chegando enfim a consenso:
"Para quê nos querermos mal?"
Quando a florista borrifa
as flores da mesma maneira
a alegria é geral
e sorri a loja inteira.
Meu corpo é feito de musgo
minha boca cor de amora
os meus cabelos são trigo
que o pássaro louco devora
Tem o verde das campinas
o meu olhar deslumbrado
e o branco das salinas
brilha em sorriso rasgado
Há aroma a flor silvestre
na minha pele de alecrim
quando a madrugada cresce
e a noite se aninha a mim
São lágrimas do meu pranto
gotas da chuva a cair
e há pássaros mudos de espanto
embalando o meu dormir
Sopra a brisa no meu peito
em cristal de gargalhadas
e de manhã quando acordo
estão as faces orvalhadas
O silêncio é de concha
entre os meus braços fechados
meus dedos agarram estrelas
com elas faço bordados
E das nuvens o meu manto
quando me vou enfeitar
agazalho-me de encanto
vou passear ao luar
Sou filha da natureza
invento-me em cada aurora
respiro paz e beleza
sorvo a vida a toda a hora
Mordemos o tempo em beijos de vento
Sorvemos as horas em sal diluídas
Trocámos promessas num mar sem alento
Despidos do mundo, gaivotas perdidas
A brisa soprou doçura e ciúme
A chuva caíu sobre nós, indiferente,
E os dois abraçados bem alto, no cume,
Vivemos a sós este amor imprudente
De corpos unidos, corais em paixão,
Gritámos saudade, amor, solidão,
Num marulhar sem mácula nem vício
Na noite escura de estrelas sombrias
Acendeu o nosso amor mil fantasias
Rasgando o céu em fogos de artifício!!!
Tudo o que tenho cá dentro
feito de fogo e paixão
é a forma como enfrento
a vida e como o meu pão
Destilo energia à toa
em cansaços me definho
mas cada canção ou loa
tem verdes de verde pinho
Só sei viver cada dia
como o último pra viver
choro e sinto alegria
como instantes a sorver
O amanhã não me importa
o futuro não me assusta
tenho aberta a minha porta
mas fechá-la não me custa
Venha a morte, mas de frente,
me apanhe lúcida, audaz,
não a seguirei contente
deixando amores para trás
Mas é assim; sempre foi,
vêm uns, outros se vão.
Do mistério o que mais doi
é viver a vida...em vão!
Soltam-se as palavras e, como asas,
sobem ao alto, descem-me aos infernos
tantas vezes queimando como brasas
quantas moldando desvarios eternos
Obrigam-me a dizer o que não queria
sugerem-me a mentir o que não sinto
arrancam solidão que me agonia
desnudam lucidez a que me afinco
Ah, se eu pudesse decifrar a sós
o inquietante tom da minha voz;
tanta coisa em mim se esquiva e esfuma...
Como se o grito afugentasse os medos
ancorasse feroz os meus segredos
no seio do meu búzio azul e espuma.
Verdes emurchecentes, desmaiados,
um céu ainda azul mas de sol pálido
um encanto todo feito em tons magoados
um entardecer belo, doce, cálido
A brisa agita mais a ramaria
e faz cair as folhas já cansadas
que inertes no chão, em agonia,
soltam soluços quando são pisadas
Tua beleza nem toda a gente a sente
mas a tua magia está presente
na solidão sombria do caminho
No pisar das folhas mortas, uma a uma,
na vaga alta, toda renda e espuma,
o teu encanto vem, devagarinho...
Apesar de folhas caírem
em suave desalento...
apesar de ventos fluirem
soltando ais e lamentos...
apesar de árvores despidas
chorarem de envergonhadas...
irás continuar, OUTONO,
nas minhas odes poéticas
mesmo que desmaiadas.
LÁGRIMAS QUE CAEM
DE NUVENS RASGADAS
EM CINZENTO CHUMBO...
LÁGRIMAS MOLHADAS
QUE CAEM RASGADAS
NA FACE DO MUNDO...
Meneses canta de galo
o Mendes baixou a crista
pro Sócrates é um regalo
ninguém agora o belisca.
É que há consensos de mais
nesta nova Oposição
se o Sócrates lhe disser SIM
Meneses não lhe diz NÃO.
O Santana, muito digno
volta as costas à TV
pois cortaram-lhe as palavras
e já se sabe porquê.
Mourinho vem repousar
e é preciso dar "directo"
audiências alcançar
mesmo não sendo correcto.
Oh, minha Pátria amada!
Aonde é que vais parar?
Não posso ficar calada
é preciso criticar.
Se tudo anda às avessas,
se não há senso comum,
pra ser gentil não me peças
CATRAPUM, PUM, CATRAPUM.
. NEVOEIRO