Povo triste, meus amigos,
o tempo não ajuda, não,
férias de todos os perigos
e a pergunta:CADÊ O VERÃO?
Fogos, chuvas, ventania,
entristecem qualquer um
e o Governo em cada dia
que só faz PUM-CATRAPUM.
As taxas sobem demais
salários sobem de menos
e é a altura em que os pais
gastam tudo com os pequenos.
As aulas vão começar
e de novo é preciso
o cinto mais apertar
com amarelo sorriso.
Compre no EL CORTE INGLÊS
o material escolar
mas não pague duma vez
vá pagando devagar.
Espanhóis não têm pressa
pois, mais dia menos dia,
será cumprida a promessa
de Portugal ser fatia.
Fatia iberiana
que, aliás, até já é
e em música castelhana
iremos BERRAR: OOOOOOLLLÉ.
http://brizissima.blogs.sapo.pt
Soneto sugestionado pelo título de um livro cujo autor me é desconhecido:
Na vida pairar de manso, mansinho,
perdida nas nuvens em céu anilado
sonhar-me em poema, a flor do linho,
solta na crina dum cavalo alado.
Prender o arco-iris com os dedos
no feitiço de matizes me abraçar
cantar à lua todos meus segredos
na paixão dos delírios me afundar.
Em sorrisos de mel tragar o instante
mastigar minhas emoções de amante
ser o feto feliz em útero de mãe
Gozar momentos de paz infinita
ser apenas a flor que a brisa agita
ah, nada fazer, mas fazê-lo bem!
http://brizissima.blogs.sapo.pt
Lá vai a Maria ao vento
lá vai Maria, lá vai
leva nela amor e alento
e aquele fervor sedento
da fé que nunca lhe sai.
Lá vai a Maria ao frio
lá vai Maria, lá vai
a emoção é um rio
que lhe vai correndo a fio
sem ela dizer um ai.
Lá vai a Maria à luta
lá vai Maria, lá vai
a rotina é uma labuta
e, se alguma paz desfruta,
é em sorrisos que sai.
Lá vai a Maria ao medo
lá vai Maria, lá vai
guarda consigo o segredo
de Mãe-Coragem com credo
numa ternura que a trai.
Lá vai a Maria ao fado
lá vai Maria, lá vai
os instantes da corrida
leva-os ela de vencida
e a força nunca lhe esvai.
Lá vai Maria ao destino
lá vai Maria, lá vai
a vida é um desatino
mas no milagre uterino
existe dor que a atrai.
Lá vai Maria à glória
lá vai Maria, lá vai
escreve MULHER na história
no triunfo da memória
em AMOR que não se esvai
Lá vai Maria
lá vai, lá vai....
Meu colo de veludo enfeitei
com pérolas de cinza refulgente
pelas esquinas do vento então voei
debruada de azul, rumo ao poente.
Um vulcão de saudades na bagagem
lavas afogueadas de carinho
os meus lábios sedentos em viagem
sopravam brumas densas do caminho.
As minhas mãos, de húmus sequiosas,
enterravam-se buscando raízes
recreando memórias preciosas
meus pedaços de amor, horas felizes.
Pássaro ardente, corpo panteísta,
mergulhei na canção da natureza
assim fiquei mulher, poeta, artista,
trindade de harmonia e de beleza.
Dedico este poema a todos os açoreanos e a todos os amantes daquelas ilhas.
A noite aninha a cabeça
no regaço da lareira
já lhe vai chegando o sono
quer dormir à sua beira.
Fazem-lhe as brasas o leito
com lençol de cinza quente
e já se agasalha a noite
nesta carícia dormente.
Quando chega a madrugada
encontra a noite a dormir
aconchegada nas brasas
que se apagam a sorrir.
Do livro "NA ESQUINQ DO VENTO"
Era uma vez um ceguinho
que tocava todo o dia
o seu harmónio velhinho.
Tocava, feliz, tocava
ora forte ora baixinho
numa música afinada
ia espalhando carinho.
E toda a gente passava
depressa, devagarinho,
continuava ou parava
para escutar o ceguinho.
Havia caixa pequena
feita em papelão branquinho
postada a seus pés, vazia,
perdida ali no caminho.
Passava gente, passava,
e nada dava ao ceguinho
E ele tocava, tocava,
o seu harmónio velhinho.
Na caixa de papelão
não caía um tostãozinho;
e ele tocava, tocava,
cheio de amor e carinho...
Um dia porém, calou-se
este harmónio do ceguinho.
Fez-se um enorme silêncio
no meio do burburinho.
Caído jazia o cego
já no fim do seu caminho.
Parou então toda a gente
espantada olhando o velhinho
com o seu harmónio mudo
sobre o peito, tão sózinho...
E aquela caixa de esmolas
feita em papelão branquinho
encheu-se nessa manhã
de moedas, num estantinho,
num tilintar musical
em Requiem pelo ceguinho.
Oh, estranho mundo o nosso!
Insensível e mesquinho
que assim deixou, sem piedade,
morrer o pobre ceguinho.
Passa agora gente, passa
por esse mesmo caminho
onde o cego já não toca
o seu harmónio velhinho
Mas grita o remorso, à solta,
no meio do burburinho.
Morreu o cego, morreu.
O MUNDO É MAIS POBREZINHO.
Mais um pouco de irreverência:
"Que mundo tão sem gosto"
queixava-se a dama com desgosto:
"A fazer um petisco eu não me arrisco"
Ouviu, ouviu, paciente o esposo
já de si ansioso de se pôr a milhas
e embarca lesto, para sulcar os mares
e descobrir ilhas.
E eis senão quando
após tempestades, doença, escorbuto,
descortina ao longe continente em bruto.
E, pra surpresa sua, aparece à mesa
especiaria rara: noz moscada, canela, cravo,
tudo servido por escravo.
E descobre mais, riquezas tais,
que nem acredita:
sedas, pérolas, porcelanas,
que servem de prendas
pra esposa e pras manas.
Regressa pois deslumbrado
de cofre bem aviado com tanta riqueza.
A esposa afinal, vai ter mais do que sal,
pró tempero à mesa.
Mas, no exagero foi um desespero
para os intestinos
as especiarias, tão raras, tão caras,
foram desatinos.
Com tanta pimenta
já bem se lamenta o pobre e o rico
e acaba esta história
sem honra nem glória
no penico.
Mas, merda de especiaria
é uma merda especial.
E daí para a frente
tudo foi diferente
em Portugal.
Do livro de poesia "PEDAÇOS" mais um poema à mulher:
Não foi a mão de Deus, mulher, que te criou
moldando a costela de um qualquer Adão
mito ancestral alguém, incauto, inventou
e tu, mulher, aceitas sem contestação.
Concebida foste em ardor e perícia
por Ente sagrado que muito te ama
te fez delicada , bela e, sem malícia,
foi partilhar contigo a mesma cama.
E a parir a humanidade vais, serena,
tão grande de alma, mulher, e tão pequena
num mundo de gigantes e falcões.
Reside no teu corpo frágil a grandeza
com que te dotou Deus e a natureza
chama e bálsamo de todas as paixões
\Do meu primeiro livro de poesia um poema muito feminino:
Sou bordadeira à mão
na era das máquinas de confecção.
Vou, de ponto em ponto, com cuidado,
transformando a minha vida num bordado.-
Bordo sempre a ponto cheio
a quimera em que me enleio,
mas se o sonho é malogrado
bordo-o a ponto cruzado.
Quando a solidão não me seduz
faço um bordado a ponto de cruz.
São bordados a matiz
os mais belos versos que já fiz.
Se me vem a saudade e não me esquivo
bordo-a a ponto de crivo.
Quando a tristeza me assombra
é bordada a ponto de sombra.
Bordo, com amor, os monogramas
a ponto pé de flor.
Mas para bordar uma canção
escolho o ponto de grilhão.
No meu destino existe uma linha
que vou bordando a ponto de espinha.
E com o ponto de areia
vou tecendo a minha teia
dentro do meu bastidor.
Faço da vida um bordado
cheio de cores, matizado
e debruado de amor.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
o Tejo de águas paradas, alheadas
barcos que, em ondas de espuma
deixam sulcos ao passar
a Ponte grandiosa, imponente
e o Cristo a abençoar.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
ao entardecer
quando o sol, suavemente,
desfaz o terno abraço às águas
e, já no poente, ainda raiado em fogo,
lhes promete voltar de novo.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
o Tejo de águas mornas, em deleite,
na cumplicidade de um amor aceite.
Seus riscos de espumas lembram lenços brancos
acenando ao seu amor
e o sol no horizonte parece guardar-lhes o rubor.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
tonalidades de azul em calmaria branda,
o imenso do céu nas águas a esopelhar-se
manto sereno onde o meu pensamento
parece alhear-se...
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
e sinto vagamente que o invejo.
Gostava de ser assim amada pelo sol,
beijada pelo luar,
desejada pela imensidão do mar.
Ter a sua profundeza
nela esconder os meus sonhos, a minha tristeza.
Inconsciente do tempo e do espaço
poder abarcar o infinito num abraço.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo
ao entardecer,
na hora das cálidas saudades
em que o dia e a noite, em amena comunhão,
tornam mais amarga e triste
a minha solidão.
Da janela do meu quarto eu vejo o Tejo...
. NEVOEIRO